ABRA A ALMA María Sánchez 03.11 - 09.12.22
ABRA A ALMA
Às vezes, o curso da vida nos leva a trancar a alma em cantos escuros e uma simples folha caída pode se tornar a chave para encontrá-la.
Paisagens Conectadas e Inventadas surgem dessa folha encontrada, do amor, carinho e amizade que me rodearam num momento crucial da minha vida, dando-me uma renovada vontade de criar, transmitindo tudo o que uma alma reconstruída pode exprimir. Eles se tornaram uma nova linguagem para falar sobre a vida. Através de elementos naturais descontextualizados ou composições escultóricas conceituais, descrevo lugares, ações, sentimentos e conceitos que preenchem nossas vidas.
Através destes novos elementos no meu processo criativo, vou continuar à procura daquilo que sempre quis: colocar a minha alma em cada obra para transmitir emoções ao espectador que a contempla e sem o qual não estaria terminada.
conectado
Se eu tivesse que falar sobre a nossa vida nestes tempos, talvez ficasse com dois conceitos: socialização e comunicação. Estas constituem uma necessidade básica do ser humano e tornaram-se palpavelmente evidentes ao longo dos anos, uma vez que em tempos de pressão o poder de adaptação, o engenho e a criatividade emergem mais fortes.
Temos nos sentido conectados ou desconectados em um mundo global paralisado, onde as possibilidades de comunicação e socialização têm sido submetidas não apenas a meios técnicos ou econômicos, mas também familiares, residenciais, mentais ou sentimentais. Em suma, reinventámos o mundo circunscrito na nossa casa, estabelecemos novas ligações e reforçámos ou perdemos as habituais.
E ao longo deste processo, se houve um novo elemento de comunicação no mundo, foi sem dúvida a varanda, entendida como janela, varanda ou terraço. Música, aplausos, cartazes, flores ou danças, sozinhos ou em grupo, estudados ou improvisados, têm sido uma nova plataforma de expressão e comunicação. Esta é a minha homenagem a todas essas varandas que se abriram a um mundo congestionado para serem uma forma de luz e expressão na linguagem universal da vida.
Esta série de esculturas reflete mundos conectados através das varandas por pequenas casas de madeira e fios de aço. Com estes elementos como base, tento expressar as sensações ou estados de espírito que tenho recebido através de mensagens desde os primeiros dias de confinamento. Por outro lado, os materiais escolhidos vão mais longe, sendo os restos de madeira e aço das talhas e esculturas de bronze que fiz ao longo dos meus anos de profissão. Vale também homenagear a capacidade de reinvenção que, como muitos profissionais, alguns artistas tiveram quando não puderam acessar nossas oficinas ou os materiais e ferramentas de trabalho.
Paisagens inventadas
Paisajes inventados é um projeto de expressão artística que através do bordado manual pretende expressar através de elementos naturais descontextualizados. Cada uma delas, folhas, flores ou sementes, foram colhidas da terra, não são perfeitas, têm as marcas de sua própria história.
Brinco com a ideia de que o que é pequeno, o que forma um todo, é tão ou mais importante do que aquilo a que pertence ou faz parte. Cada um desses elementos torna possível sua existência. Para mim, esta ideia representa a metáfora para falar da vida, de como a sociedade, o mundo em que vivemos e o ser humano estão unidos para além da mera coexistência. Cada ser é um pequeno detalhe da vida global, e cada detalhe, bonito ou não, parece passar despercebido longe do todo ao qual pertence e do qual é parte essencial. Quero focar-me nos detalhes, nas nuances que tornam mais real o espaço que nos rodeia, que valorizam uma ação, que definem uma pessoa.
Maria Sanches Agostinho